RCA

RCA FM



A HISTÓRIA DA RCA FM
A RCA FM surgiu com o intuito de atender a comunidade através dos diversos programas apresentados na sua grade. A novidade surge por volta do mês de Março de 1998, já no dia 10 de Agosto do mesmo ano o sistema de radiodifusão comunitário entra no ar em sua fase experimental, aguardando tão somente a regulamentação do serviço em Areial através da Lei 9.612/98, só no mês de Dezembro daquele ano foi que iniciamos com uma grade programação da RCA FM, neste período a Sede funcionava na Rua Antonio Barbosa Alves. EM 2004, por decisão do Senado Federal, foi expedido o alvará de funcionamento da emissora no Município de Areial.
Ao longo dos anos, a RCA FM tem dado efetiva contribuição para os diversos seguimentos da sociedade arealense, ao levar à população todas as discussões e projetos do Poder Legislativo e as ações do Poder Executivo que têm repercussão na vida de cada filho desta terra. Dentre as coberturas da emissora, destacam-se ainda os plantões nas eleições municipais e também os grandes eventos do Município.
Já passaram por aqui inúmeros apresentadores, experientes e outros buscando o aprendizado na arte da comunicação.  Vários personagens fizeram e ainda fazem parte da história da RCA.
 A RCA FM é representada e coordenada pela Associação Comunitária dos Moradores de Bairros do Município de Areial - ACMBMA, fundada em 28 de Março de 1998, Entidade de utilidade pública sem fins lucrativos.

Hoje estamos instalados em Sede própria na parte alta da cidade, mais precisamente na Rua Antônio Felix da Costa, nº 09 no Alto da Bela Vista, Areial, Paraíba, Brasil.





UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE ARTE E MÍDIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL



VANDA ELIZABETH BALBINO




O PAPEL DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS NA GERAÇÃO DE CIDADANIA






Campina Grande
2016

VANDA ELIZABETH BALBINO







O PAPEL DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS NA GERAÇÃO DE CIDADANIA



Trabalho de conclusão de curso de graduação, apresentado à Unidade Acadêmica de Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande, como requisito parcial para obtenção de título de bacharel em Comunicação Social com linha de formação em Educomunicação.
Orientadora: Afonsina Maria Guersoni Rezende








Campina Grande
2016
VANDA ELIZABETH BALBINO



O PAPEL DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS NA GERAÇÃO DE CIDADANIA



Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Unidade de Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com linha de formação em Educomunicação.


Aprovado em: ____ de _______ de _____.



BANCA EXAMINADORA



__________________________________________
Profa. Dra. Lígia Beatriz Carvalho – UFCG
(Membro Examinador)


__________________________________________
Prof. Dr. Noujain Pereira - UFCG
(Membro Examinador)



__________________________________________
Profa. MS. Afonsina Maria Guersoni Rezende – UFCG
 (Orientadora)

Resumo

Este projeto trabalha com os temas rádio comunitária e educomunicação, demonstrando a importância deles no contexto social, como instrumentos para ampliar o potencial comunicativo das classes desfavorecidas.   O objetivo geral do projeto foi desenvolver um programa na rádio comunitária de Areial, na Paraíba, a partir dos princípios da educomunicação, que atendesse às necessidades dos agricultores da região. A intenção era que esse programa fosse um espaço para divulgação de informações e participação do público alvo, ajudando essas pessoas a serem protagonistas de sua história na conquista da cidadania. Este projeto ainda propôs nos seus objetivos específicos, estudar os aspectos legais e o funcionamento das emissoras comunitárias; analisar mais profundamente os conceitos da educomunicação; fazer um levantamento sobre os temas importantes para os agricultores da região; e avaliar a repercussão do programa, quanto ao seu conteúdo. Em termos metodológicos o projeto se desenvolveu através de uma sondagem informacional para conhecer os assuntos que o público gostaria que fossem abordados no programa, e uma pesquisa de avaliação para saber os resultados que o programa estava alcançando.  Os resultados da pesquisa e a ampla participação dos ouvintes confirmaram que o programa teve boa receptividade e que cumpriu seu papel de dar vez e voz aos agricultores, ampliando a comunicação entre eles e garantindo o exercício de sua plena cidadania.    

Palavras-chave: Rádio comunitária. Educomunicação. Cidadania.










SUMÁRIO














1 INTRODUÇÃO


A cidadania nos remete a direitos e deveres do povo de uma nação. Os movimentos sociais ganharam força através da comunicação popular, na qual as pessoas pertencentes a grupos marginalizados conquistaram espaço para divulgar suas ações e reivindicações e garantir seus direitosdiante da sociedade. A comunicação popular abriu espaço para o cidadão se manifestar, dando-lhe vez e voz, nesta perspectiva colaborando para geração da cidadania.
As rádios comunitárias foram regularizadas, no Brasil, em 1998, a partir da lei 9.612. Têm como função social abrir espaço para os diversos grupos da sociedade sem distinção de cor, raça, classe social, orientação sexual, partidospolíticos e segmentos religiosos, disseminando o conhecimento e divulgando a cultura, o entretenimento eas informações, de forma a desenvolver as comunidades em que elas se localizam. (PERUZZO, 2005)
Os estudos sobre a relação entre educação e comunicação, que vão fundamentar o campo da educomunicação, surgiram privilegiando o ambiente escolar, mas, logo se percebeu que não se aprende apenas nesse contexto:

Aprende-se também por intermédio dos meios de comunicação, na vivência cotidiana, nos relacionamentos sociais, nas reuniões das equipes, nas práticas comunicativas no âmbito da comunicação comunitária, nas oficinas visando melhoria do trabalho no rádio popular, ou seja, por dinâmicas de educação informal e não-formal. É neste âmbito que acontece a educomunicação comunitária. (PERUZZO, 2007, p.11)

A atuação de uma emissora comunitária aproxima-se dos conceitos educomunicativos à medida que busca contribuir para ampliar os direitos à comunicação das pessoas de modo geral, dando espaço para que elas sejam protagonistas na construção do desenvolvimento social de suas comunidades.
A rádio comunitária de Areial - PB foi fundada em 1998, para facilitar a participação dos diversos segmentos sociais na discussão dos temas em favor do  desenvolvimento local e da geração de cidadania. Minha atuação na emissora iniciou-se voluntariamente em 2007, quando comecei a apresentar um programa informativo. No decorrer do curso de Comunicação Social da UFCG, comecei a perceber que os fundamentos da educomunicação poderiam contribuir para que o papel social da emissora se fortalecesse ainda mais. Em novembro de 2015, com a necessidade de criação de um espaço na programação para o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) de Areial-PB, propus, ao diretor da emissora, um projeto com o objetivo geral de desenvolver um programa dirigido aos produtores rurais, que fosse baseado nos princípios educomunicativos. Em relação aos objetivos específicos este projeto se propõe a: estudar os aspectos legais e o funcionamento das emissoras comunitárias; analisar mais profundamenteos conceitos da educomunicação; fazer um levantamento sobre os temas importantes para os agricultores da região; e avaliar a repercussão do programa, quanto ao seu conteúdo.
Em termos metodológicos, este projeto de intervenção se desenvolve através de pesquisa bibliográfica e documental. Para avaliação foi aplicado um questionário aos membros do conselho, com perguntas abertas. Através do questionário pode-se ter uma visão mais ampla sobre a opinião da comunidade em relação ao programa radiofônico. 
Este relatório consiste de três partes: a fundamentação teórica, trazendo as contribuições de autores renomados como Luiz Artur Ferraretto, Maria Cecília Peruzzo, Ismar Soares, entre outros. A metodologia faz a apresentação de como se desenvolveu o projeto de intervenção e a conclusão traz reflexões sobre os resultados alcançados.




2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


2.1 Rádio: conceitos e características


O rádio é um veículo de comunicação que vem resistindo, durante décadas, ao surgimento de novas tecnologias. Mesmo concorrendo com a televisão, que conta com o poder das imagens para atrair as pessoas, o rádio não perdeu seu espaço na sociedade e continua a transmitir informações elevar entretenimento aos seus ouvintes. Seja através de um aparelho de pilha, ou ligado à energia, ou mesmo do celular, as transmissões radiofônicas acompanham o cidadão diariamente, em uma relação de amizade e companheirismo. 
Quando falamos em rádio, alguns conceitos precisam ser esclarecidos, dentre eles o de radiodifusão. Pois bem, radiodifusão deriva-se do inglês broadcasting, que significa “enviar em todas as direções”. Neste caso trata-se das ondas eletromagnéticas que são irradiadas em várias direções. A radiodifusão refere-se a dois tipos de serviços: o sonoro (rádio) e o de sons e imagens (televisão). (FERRARETTO, 2014).
O conceito de rádio está além de um simples aparato tecnológico. Com o passar do tempo, foi se acentuado a importânciadesta ferramenta no meio social, passando de mero transmissor de ondas hertzianas a um instrumento disseminador de ideias e conceitos na formação sociocultural da população. Meditsch (2010) citado por Ferraretto (2014, p.18) diz que:

Há mais de uma década, começamos a questionar o conceito de rádio atrelado a uma determinada tecnologia, procurando demonstrar que melhor do que isso seria pensar o rádio como uma instituição social, caracterizada por uma determinada proposta de uso social para um conjunto de tecnologias, cristalizada numa instituição.

Diante do exposto partimos, então, para uma definição mais aprofundada, registrada na Enciclopédia Intercom de Comunicação (2010), citada por Ferraretto (2014, p.18), que diz que o rádio é um:

Meio de comunicação que transmite, na forma de sons, conteúdos jornalísticos, de serviço, de entretenimento, musicais, educativos e publicitários. [...] De início, suportes não hertzianos como web rádios ou o podcasting não foram aceitos como radiofônicos [...]. No entanto, na atualidade, a tendência é aceitar o rádio como uma linguagem comunicacional específica, que usa voz (me especial, na forma da fala), a música, os efeitos sonoros e o silêncio, independentemente do suporte tecnológico ao qual está vinculada.

              Na definição acima podemos perceber a preocupação em estabelecer que o que faz o rádio é a sua linguagem comunicacional e não propriamente a tecnologia que o sustenta.
Para Costa, o rádio trouxe uma comunicação diferenciada, por estimular o imaginário dos ouvintes e fazer uma ponte entre elas e o mundo:

O rádio inovou em termos de comunicação – invadiu as casas e passou a acompanhar as pessoas narrando o que sucedia no mundo. Através de uma oralidade direta, persuasiva e próxima foi conquistando uma unanimidade nova e estimulando o imaginário dos ouvintes. (COSTA, 2013, p. 122)


              Costa comenta, ainda, que o rádio foi um dos primeiros a trabalhar a interatividade com os ouvintes “... a fala direta do apresentador, ou speaker, estimula a reação do ouvinte que responde de forma sincera e assídua ao apresentador. Através de cartas, ligações telefônicas, a plateia reage.” (COSTA, 2013, p.123).
Silva e Torrielo (2013, p. 108) apontam o rádio como democrático ao atingir “desde o analfabeto até o intelectual, mediante programas adequados a cada classe de ouvintes [...]”. Os autores também destacam que o rádio é companheiro em todos os momentos, pois os ouvintes não precisam parar suas atividades, enquanto estão acompanhando sua programação.
Ferraretto (2014, p. 19) nos indica duas modalidades básicas de rádio: o rádio de antena ou hertziano, “correspondendo às formas tradicionais de transmissão eletromagnéticas;” e, mais recentemente, o rádio on-line, que “engloba todas as emissoras operando via internet [...], além de produtores independentes de conteúdo disponibilizado também via rede mundial de computadores.” Para o autor, esta última modalidade, engloba: a rádio na web (estações tradicionais que transmitem sua programação pela internet), o web rádio (emissoras que transmitem exclusivamente pela internet) e a prática do podcasting[1].
As rádios tradicionais, quetransmitem conteúdos através de ondas eletromagnéticas, precisam de uma autorização legal do governo para funcionar e se dividem em comerciais, educativas e comunitárias.
As rádios comerciais se caracterizaram por serem emissoras que visam obtenção de lucros e abrangem maior número de ouvintes. As rádios educativas são aquelas que veiculam em sua programação apenas conteúdos educativos e estão ligadas a universidades e ao Estado, já as rádios comunitárias se caracterizam por ser um canal de disseminação de cidadania e cultura nas comunidades, buscando a coletividade eabrindo espaço para aqueles que vivem às margens da sociedade. (FERRARETTO, 2014).
Por ser um meio de comunicação de massa, que atinge um grande número de pessoas, o rádio exerce também um papel político na sociedade. Ele deveria ser usado para fins coletivos, mas o que vemos é que, por ter o regime de concessão pelo governo federal, grande parte das emissoras se concentra nas mãos de grupos políticos, que usam a força do rádio para preservar seus interesses. Silva (2014, p.164-165) aponta que:

Transformadas em instrumento de barganha política, as concessões de rádio são moeda corrente entre os protegidos do poder. A lista é bem grande.Entre os mais conhecidos estão os nomes de Antonio Carlos Magalhães (presidente do Senado), seu filho Luis Eduardo (deputado federal), Fernando Collor de Mello (ex-presidente da República), Tasso Jereissati (governador reeleito do Ceará), José Sarney (ex-presidente da República e senador), Inocêncio de Oliveira (deputado federal), Geraldo Bulhões (ex-governador de Alagoas), Orestes Quércia (ex- governador de São Paulo), Jader Barbalho (ex-governador do Pará), José Agripino Maia (senador), Hugo Napoleão(senador), Albano Franco (ex- governador de Sergipe), Cícero Lucena(ex-governador da Paraíba), entre outros.

O rádio é uma arma muito poderosa, pois está mais perto do cidadão, com uma linguagem clara e objetiva. Por isto, os políticos se apropriam deste meio com intuito de falar direto para o cidadão, ganhando sua confiança, para tornar mais fácil a obtenção do voto.
Lobato (1995), citado por Silva (2014, p.104) lembra que:

Empresários e políticos burlam as leis registrando as concessões em nome de parentes, garantindo o monopólio dos meios de comunicação. O Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT) proíbe a concentração de mercado. A legislação criada durante o regime militar determina que nenhuma pessoa ou entidade pode ter participação em mais de dez emissoras de TV, em todo país, das quais cinco, no máximo podem ser VHF.

Contudo esta não é a realidade no Brasil. Segundo os autores citados acima, a família do empresário Roberto Marinho é acionista em 17 emissoras de TV, das quais 15 são em VHF.
A importância do rádio enquanto veículo de comunicação que está presente em todos os momentos da vida das pessoas se confirma por conta de sua flexibilidade e por ser um canal democrático de baixo custo de produção e transmissão, por tanto tudo isto faz do rádio um instrumento indispensável na sociedade.

2.2 A história do rádio


A transmissão radiofônica ocorre essencialmente através de ondas eletromagnéticas, cujos estudos se originam das pesquisas de dois importantes físicos, James Clerk Maxwell e Heinrich Hertz, no final do século XVIII. Estes estudos sobre as ondas eletromagnéticas possibilitaram o surgimento de várias tecnologias, dentre elas, o telégrafo sem fio, o telefone, e o rádio. (COSTA, 2013, p. 119)
Muitos historiadores apontam o italiano Guglielmo Marconi como criador do rádio. Segundo Costa (2013, p. 119) “em 1899, Marconi inaugurou o telégrafo sem fio com uma transmissão que atravessava o Canal da Mancha.” Ele patenteou a invenção e lançou a primeira estação de rádio. Ainda segundo Costa, o padre brasileiro Roberto Landell de Moura, teria sido o precursor da criação do rádio, chegando até a patentear a invenção, mas desistindo de suas pesquisaspor falta de apoio governamental.
              Silva e Toriello nos falam sobre o surgimento do rádio, como meio de comunicação:

A primeira transmissão radiofônica foi realizada em Pittsburgh, nos Estados Unidos, no ano de 1920, pela Companhia Westinghouse. No início da década de 1930, as técnicas se aperfeiçoaram. Os estúdios onde foram instalados os microfones e reunidos músicos, artistas e locutores encontravam-se na cidade, enquanto os centros emissores estavam instalados fora dela. A potência dos postos aumentou e o número de ouvintes também, transformando o rádio em um veículo de informação e propaganda. (SILVA e TORIELLO, 2013, p. 100-101)

Na segunda guerra mundial, o rádio se fez presente levando informações e servindo de instrumento de persuasão. Quem melhor explica sobre o uso do rádio na segunda guerra mundial, são Golin e Abreu (2006, p. 74), relatando que:

A crença nas suas potencialidades não ficava somente na manifestação de subordinados ou nos ouvintes que encontravam no rádio uma companhia e, sobretudo, uma forma de inserção social. Os líderes nazistas apostavam no veículo para manter o ânimo das tropas, entusiasmar a população e destruir moralmente os adversários. Com a guerra no auge, os alemães ouviam no rádio os discursos convincentes e animadores do Ministro da Propaganda.

Na década de 1960, o rádio tem uma importante transformação em sua tecnologia com o surgimento do transistor, segundo Haussen (2004, p.3) “[...] a disseminação do transístor, na década de 60, seria outro grande momento da radiofonia, uma vez que permitiria a criação do rádio portátil, e, como consequência, a libertação do "espaço fixo" do veículo, em geral na sala de jantar, papel ocupado, depois, pela televisão”.
Haussen (2004, p.3) também aponta outros dois avanços na tecnologia, que trouxeram mudanças importantes para o rádio: a introdução da Frequência Modulada (FM), que ocorreu no Brasil, na década de 1970 e a possibilidade transmissão via satélite e pela internet, nos décadas de 1980 e 1990. O surgimento das emissoras FM trouxe uma segmentação maior de programação. A transmissão via satélite permitiu que as emissoras ampliassem seu alcance, atingindo locais mais distantes e isolados geograficamente.
No Brasil, relatos revelam que o rádio surgiu por volta de 1892, tendo por precursor o padre Roberto Landell de Moura, que através de válvula fez uma transmissão radiofônica. (SILVA e TORRIELO, 2013).
A primeira transmissão oficial só aconteceu por volta de 1922, quando foi transmitida uma homenagem ao centenário da Independência do Brasil, na Praia Vermelha no Rio de Janeiro, através de um sistema de alto-falante. Porém a primeira emissora de rádio a ser fundada, foi a Sociedade do Rio de Janeiro, por Roquete Pinto, em 1923.
Foi no final da década de 1920, que o rádio começou a deixar para trás sua fase amadorística:

No final da década de 1920, o rádio buscava o caminho da profissionalização. A maior parte das emissoras passava a irradiar seus programas todos os dias da semana. Novas empresas de radiodifusão formavam-se, iniciando projetos revolucionários que conquistaram definitivamente o público ouvinte, transformando o rádio em um elemento indispensável em todos os lares. A Rádio Sociedade Record, de São Paulo, foi uma delas. (CALABRE, 2002, p. 8)

Na década de 1930, em seu primeiro mandato como presidente da república, Getúlio Vargas já demonstrava como o rádio poderia ser usado como instrumento político:

[...] Getúlio Vargas no seu primeiro período como presidente do Brasil - 1930/1945 - governou sob forte cunho nacionalista, influindo sobre os meios de comunicação ao buscar impor o seu projeto político que incluía a unificação nacional. Em 1º de maio de 1937 já destacava o valor que daria ao rádio, na mensagem enviada ao Congresso Nacional que anunciava o aumento do número de emissoras no país. (HAUSSEN, 2004)

Também, na década de 1930 surge a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que anos mais tarde seria estatizada no governo Getúlio Vargas e que foi considerada um marco na história do rádio no Brasil, pois apresentava uma estrutura bastante moderna, tanto no sentido tecnológico, quanto de programação:

[...] um marco seria a criação da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 1936, que se tornaria um modelo e marcaria presença em todo o território nacional através de sua programação. Principalmente após 1940, quando foi encampada pelo governo Getúlio Vargas, junto com o espólio da antiga Companhia de Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande e as empresas a ela pertencentes. Entre estas estavam a Rádio Nacional, o jornal A Noite e a Rio Editora. Desde então, a emissora passaria a contar com o apoio financeiro do governo e da publicidade comercial. Este fato faria com que pudesse dispor da tecnologia mais avançada da época, dos melhores artistas, radialistas e técnicos, tornando-se um paradigma por vários anos. (HAUSSEN, 2004)

Tanto no Brasil, quanto no mundo em geral, o rádio tem uma história rica de fatos e acontecimentos que se confundem com a própria história da sociedade. Suas características lhe permitiram se firmar como companheiro de todas as horas, levando informação e entretenimento, mas não deixando de ser usado também para disseminar interesses de grupos minoritários poderosos.

2.3 A linguagem radiofônica e suas características


Não diferente dos demais meios de comunicação, para produzirno rádio é preciso mais que uma forma de expressão, é necessário um conjunto de signos e códigos os quais formam a linguagem radiofônica. Segundo Ferraretto (2014, p.30) “a linguagem radiofônica engloba outros elementos além da oralidade que, como o próprio texto expressado na voz, se prestam a diversas variações, podendo- e devendo-, conforme o caso, estabelecer articulações entre si”.
Balsebre (1996), citado por Reis (2012), apresenta a definição e os elementos que formam a linguagem radiofônica:

[...] o conjunto de formas sonoras e não sonoras representadas pelos sistemas expressivos da palavra, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio, cuja significação é determinada pelo conjunto de recursos técnico-expressivos de reprodução sonora e o conjunto de factores que caracterizam o processo de percepção sonora e imaginativo-visual dos radiouvintes. (BALSEBRE, 1996, apud REIS, 2012, p. 4)

A linguagem radiofônica não se resume naquilo que ouvimos ou escutamos do aparelho do rádio, ela expressa uma realidade construída através dos vários recursos como a voz, a música e os efeitos sons, abrindo-nos para o mundo. Segundo Reis (2012, p.4) “a linguagem radiofônica, com todos os seus recursos expressivos, espelha, constrói e recria a realidade sonora que nos envolve, devolvendo-nos aos ouvidos os sons do mundo.”.
Os autores nem sempre concordam ao listar os elementos da linguagem radiofônica. Para Ferraretto (2014, p. 31) a linguagem radiofônica é composta por quatro elementos que são a voz, a música, os efeitos sonoros e o silêncio que têm a função de prender a atenção dos ouvintes. Por outro, de acordo com Reis (2012, p. 5) são usados quatro elementos na linguagem radiofônica, palavra, música, efeitos sonoros e silêncio, com objetivo de seduzir os ouvintes.
Esses elementos podem ser usados de forma combinada, dependendo da exigência do conteúdo que estará sendo levado aos ouvintes, não se faz o rádio apenas com a oralidade. Para Reis:

A linguagem radiofônica é o que resulta não da utilização isolada de cada um dos componentes, mas do seu conjunto. Não é uma mera soma de todos os elementos, antes resulta da sua interação. Os quatro são produtos sonoros e, como tal, a análise da linguagem radiofônica não pode limitar-se apenas à linguagem oral. Isso tornaria o meio mais pobre, mais limitado, menos imaginativo-visual, menos expressivo. A capacidade expressiva da linguagem radiofónica não pode ser reduzida a um simples sistema semiótico da palavra, todos os recursos fundamentam o sentido simbólico, estético e conotativo da linguagem radiofônica. (2012, p. 5-6)

Por ser um elemento usado com frequência na emissão radiofônica, à voz ocupa um lugar de destaque e, muitas vezes, deixa os demais elementos passarem despercebidos. Segundo Ferraretto (2014, p.32) “a voz aparece com mais frequência em rádio, possui alto poder comunicativo, carregando parte significativa do conteúdo da mensagem.”.
As características da voz se classificam em altura, intensidade e qualidade ou timbre. Quanto à altura, a voz pode ser grave (mais associada ao homem) ou aguda (associada mais com a mulher); No que se refere à intensidade, a voz varia entre forte e fraca. Qualidade ou timbre é se a voz é mais agradável, abafada, chorosa, nasal, etc. (SOARES, PICCOLOTTO, 1991 apud FERRARETO, 2014).
Para Reis (2012) a palavra reproduz a realidade, estimula a imaginação e provoca sensações. Ela é responsável pela nossa socialização, através dela nos comunicamos, interagindo e nos aproximamos das outras pessoas.
Ferrareto (2014, p. 32-33), citando Martinez-Costa e Unzueta (2005) apresenta as diversas funções da palavra:
(1)   Enunciativa ou expositiva – quando apresenta dados objetivos e concretos.
(2)   Programática – quando a palavra dá unidade ao discurso.
(3)   Descritiva – quando usada para descrever cenários e personagens.
(4)   Narrativa – quando a palavra é usada para representar uma ação no tempo e no espaço.
(5)   Expressiva ou emotiva – quando é usada para indicar emoções.
(6)   Argumentativa – ao ser usado para defender ideais e opiniões.
Outro elemento importante na radiofonia é a música que tem o poder de despertar emoções variadas ou de reforçar a emoção contida na voz. Reis (2012, p.5) cita que “a música representa um caso particular de comunicação não figurativa, constituída por elementos abstratos. Expressa e conduz o ouvinte a estados de alma.”.
De acordo com Mello Vianna (2014, p. 233):

Consideramos que a música possa ser utilizada com a intenção de imprimir emoções, intensificar a dramaticidade da voz ou criar paisagens sonoras − por meio da associação com imagens que fazem parte da memória do ouvinte − de forma que a peça radiofônica sugira determinados sentidos para esse ouvinte.

Ferrareto (2014, p. 33), citando Haye (2004), apresenta as funções da música:
(1)   Gramatical – quando a música é usada para separar os diversos momentos da programação.
(2)   Descritiva – quando é usada para ajudar retratar aquilo que se está narrando.
(3)   Expressiva – quando ela cria uma ambientação.
(4)   Complementar ou de reforço – ao completar ou aperfeiçoar o conteúdo.
(5)   Comunicativa – ao ser usada como uma música autônoma.
                   Efeitos sonoros seriam sons produzidos, através de diferentes objetos, ou digitalmente, que podem levar o ouvinte a imaginar determinadas situações. Por exemplo, uma folha de zinco, quando balançada na frente do microfone, sugere o som de uma tempestade. Reis (2012, p. 5) afirma que “os efeitos sonoros reproduzem uma imagem concreta do desenvolvimento sonoro de um acontecimento, produzem uma sensação de realidade, isto é, têm a função de tornar o que se ouve verossímil.”.
Segundo Ferrareto (2014, p. 34), os efeitos sonoros foram muito usados no início dos anos 1930, quando surgiu a dramaturgia radiofônica. Primeiramente com processos mecânicos, e com o passar do tempo, foram substituídos por gravações em fita cassete e disco de vinil, e hoje conta-se com suportes digitais, que possibilitam maiores eficácias nas produções dos efeitos.
Mesmo sendo um instrumento de transmissão de sons, no rádio é possível usaro silêncio. Esse elemento também compõe a linguagem radiofônica. Para Reis (2012, p.5) “o silêncio é um tempo em que não se produz som, pelo menos perceptível aoouvido humano, mas aqui o imaginário atua ainda mais já que o silêncio oferece um momento de grande expressividade sujeito a múltiplas interpretações.”.  Mello Vianna (2014, p. 236) diz que, “o silêncio é um elemento constituinte da peça radiofônica que sugere sentido pela oposição aos demais elementos de uma peça.”.
Como foi visto a linguagem radiofônica não trata apenas de transmissão de vozes, outros elementos são essenciais para levar sentido ao conteúdo veiculado aos ouvintes. Os elementos, embora vistos separadamente, atuam conjuntamente, tornando mais completa a experiência vivida pelos radiouvintes.

2.4  Rádio comunitária: conceitos e funções


O rádio é um veículo que cria uma intimidade grande com seu ouvinte. A rádio comunitária usa desta vantagem para promover a cidadania, trazendo informações importantes para a vida em sociedade.
As rádios comunitárias são emissoras que não visam lucros, atuam junto às comunidades, levando informação e cidadania para aquelas pessoas que vivem à margem da sociedade.  De acordo com Peruzzo:

As rádios comunitárias têm grande importância em várias partes do mundo, das Américas à Ásia. Sempre são vistas como fator de desenvolvimento social e, às vezes, recebem apoio dos governos locais por intermédio de programas específicos, de organizações não-governamentais, de igrejas, universidades e/ou da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).(2006, p. 6)

O papel da rádio comunitária vai além da simples transmissão de conteúdos, ele objetiva levar informação, cultura, entretenimento e desenvolvimento. A Lei 9.612/1998, que rege a radiodifusão comunitária, descreve mais detalhadamente quais são os objetivos de uma emissora comunitária:

Rádios Comunitárias são órgãos de mídia social que prestam serviços radiofônicos através de fundações e associações comunitárias sem fins lucrativos, criadas com objetivo de levar às pequenas comunidades, informação, cultura, entretenimento, lazer e tudo que contribua no desenvolvimento comunitário, sem discriminação de raça, religião, sexo, convicções político-partidárias e condições sociais, a qual abre oportunidade para divulgação de ideias, manifestações culturais, tradições e hábitos sociais se apresentando como alternativa na sociedade, aproximando o cidadão da comunicação, dando vez e voz as classes menos favorecidas. (BRASIL, 1998)

Berti (2007, p. 1) ressalta que as rádios comunitárias se diferem das rádios tradicionais, pois “atuam principalmente enfocando assuntos das comunidades, dos grupos marginalizados, dos grupamentos e segmentos sociais não contemplados pelas mídias tidas como convencionais”.

Esse instrumento midiático contribui na conscientização e na formação crítica do cidadão, veiculando conteúdos socioeducativos, que fazem as pessoas refletirem sobre os temas da comunidade em que vivem. Ruas enfatiza:

Criada com o objetivo de suprir necessidades ou promover melhorias na qualidade de vida de determinado segmento da população, a rádio comunitária promove a conscientização, a educação não formal e o desenvolvimento de consciência crítica. Essas pequenas rádios tentam construir nova e mais moderna forma de se comunicar: emissão e recepção mais próximas do cidadão e de sua realidade. (2002, p.40)

            Enquanto as rádios convencionais visam essencialmente o lucro, através da veiculação de mensagens comerciais, as rádios comunitárias abrem espaço para a comunidade manifestar suas necessidades, dando voz e vez às pessoas comuns, que não têm tanta visibilidade para a grande mídia.

2.5 O contexto histórico das rádios comunitárias


As primeiras emissoras de rádio a surgir tinham um caráter mais comercial. O conceito de rádio comunitária não é muito antigo, embora existissem anteriormente algumas iniciativas que já traziam aspectos dessa mídia, que faz uso de conteúdo socioeducativo e cidadão.
Antes do surgimento das rádios comunitárias existiram outros tipos de emissoras que atuavam sem regularização, tais como, as rádios livres, as rádios periféricas e as rádios piratas. Peruzzo (1998, p.2) diz que as “rádios livres são emissoras que entram no ar, ocupam um espaço do dia, sem concessão, permissão ou autorização de canal por parte do Governo, sendo, portanto caracterizadas como ilegais”. Já Santos (2014, p. 87) salienta que as rádios periféricas são aquelas instaladas, em um determinado país, com objetivo de transmitir uma programação ideológica, para ser disseminadas em outras nações.
 As rádios piratas se diferenciam das emissoras livres e das periféricas, de acordo com Machado et al (1987) citado por Santos (2014, p.86-87):

As rádios piratas eram aquelas que emitiam sinais de rádio diretamente de barcos na costa de países europeus onde a publicidade era proibida nas emissoras estatais – as únicas existentes até então. Como os transmissores ficavam situados dentro de barcos, e estes estampavam bandeiras, acabavam lembrando os antigos navios piratas. Daí o surgimento deste rótulo.

Peruzzo (1998) citado por Santos (2014, p. 87) “pressupõe que a primeira rádio livre tenha sido uma emissora sindical que, em 1925, foi ao arna Áustria”. No entanto Ghedini (2009) citado por Luz (2011, p.1) diz que, talvez a primeira rádio comunitária do mundo tenha surgido em 1947, na localidade de Boyacá na Colômbia. Já na Bolívia, no ano de 1965, existiam 23 rádios livres/ comunitárias.
No Brasil, Santos (2014, p. 89) citando Meliani (1995), relata que, “em 1931, o publicitário Rodolfo Lima Martensen colocou no ar uma rádio não autorizada no município de Rio Grande de São Pedro, no Rio Grande do Sul”. A Rádio Cultura AM de São Paulo, segundo o autor citado, também entrou no ar, em 1933, sem autorização.
Mas não foram esses acontecimentos que deram início ao movimento das rádios livres no Brasil. Segundo Peruzzo, o início das rádios livres no Brasil coincide com a época do regime militar, na década de 1970:

No Brasil, as rádios livres começaram a aparecer nos anos setenta, numa época em que o regime militar estava em vigor e os meios de comunicação de massa estavam, de forma predominante, nas mãos de pessoas ou grupos privilegiados com a concessão de canais, por decisão unilateral do Poder Executivo Federal. (PERUZZO, 1998, p.3)

Ainda segundo a autora, a criação da rádio Paranóica, em Vitória, no Espírito Santo, marcou o surgimento deste movimento no Brasil.
Com a expansão das rádios livres, vários grupos sociais começaram a perceber a força deste instrumento para divulgação e mobilização das pessoas em torno de suas causas. Peruzzo relata que:

Também houve experiências de rádios em sindicatos e nos movimentos comunitários. Os bancários de São Paulo, que em 1981/1982 haviam adquirido prática com o sistema de alto-falantes móveis, puseram no ar, em 1985, a Rádio Teresa, com 120 watts de potência. Em Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital paulista funcionou a Rádio Patrulha que passou o microfone à comunidade. (1998, p.4)

De acordo com Luz (2011, p.1-2), “o Brasil foi um dos últimos países da América Latina a embarcar nas ondas da rádio comunitária”. O autor ainda ressalta que essas rádios surgiram no Brasil com base em três conceitos de emissoras:
1)      Rádios revolucionárias; Aquelas de oposição política, com uma ideologia esquerdista, que mobilizava o povo e a resistir às opressões.
2)      Rádios controladas pela igreja católica, apesar de ter um sentido político, fazendo oposição ao poder dominador, elas divulgavam a doutrina católica. A rádio Sutatenza, na Colômbia, tida como a primeira rádio comunitária, nos seus primórdios, era dominada pela igreja católica.
3)      Rádio livre: essas emissoras não tinham um padrão definido, lutavam pela democratização da comunicação. Boas partes destas rádios hoje pertencem às universidades.
Na década de 1990, as rádios livres se expandiram por todo país, chamando atenção dos órgãos governamentais, no sentido de uma regulamentação. No ano de 1996, o Congresso Nacional, através de projeto de lei, propõe a regulamentação do serviço de radiodifusão comunitária no Brasil. A partir da lei 9.612/98, as rádios livres passam ser oficialmente chamadas de rádios comunitárias. Costa diz que:

O avanço das rádios livres, bem como a constante presença da pauta da radiodifusão comunitária nas reuniões dos conselhos e congressos de comunicação do Estado brasileiro, forçou o governo a regulamentar o cenário de radiocomunicação no Brasil. A alternativa encontrada acabou sendo a elaboração da lei 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, votada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo então presidente da república, Fernando Henrique Cardoso. (2011, p.2)

O serviço de radiodifusão comunitária foi criado pela Lei 9.612, de 1998 e regulamentado pelo Decreto 2.615 do mesmo ano. Em seu texto, a lei determina que as emissoras comunitárias podem apenas transmitir em frequência modulada (FM), com  potência  máxima de 25 Watts, o que faz com elas tenham uma alcance de apenas um quilômetro quadrado. (BERTI, 2007, p. 3). Na prática, algumas emissoras conseguem atingir até mais.
 Para Costa (2011) foi através da regularização do serviço de radiofonia comunitária, que as pequenas emissoras encontraram a oportunidade de exercer seu trabalho regionalizado e democrático. Além disso, com a regulamentação, diversas emissoras comunitárias foram implantadas no país. Segundo informações do Ministério das Comunicações (2011), há 4.377 rádios comunitárias outorgadas no Brasil.
As rádios comunitárias no Brasil, hoje, são presença marcante nas pequenas cidades, nos bairros das periferias das grandes cidades atuando como interventoras, levando informação, gerando cidadania e abrindo oportunidades para aqueles que mais precisam.

2.6 O conteúdo programático das rádios comunitárias


Como já vimos, as rádios comunitárias se diferenciam das rádios tradicionais em vários aspectos, na programação também há essas diferenciações. Enquanto as rádios comerciais veiculam programas, com intuito de atrair o maior número de ouvintes e desta forma conseguir maior lucro, as emissoras comunitárias não buscam geração de lucros. Seu objetivo principal consiste na veiculação de informações de interesse da comunidade, em que estão inseridas. Para Costa:

Enquanto a programação das mídias tradicionais capitalistas tem o objetivo de massificar a sua programação, a fim de tentar atingir todos os públicos para a maior obtenção de dividendos financeiros, a de uma rádio comunitária é particularizada direcionada e objetiva, buscando atingir um público específico (2011 p. 3-4).

A programação das rádios comunitárias deve se pautar pela ética, respeitar os valores familiares e prestar à população um serviço de utilidade pública, além de contribuir no aperfeiçoamento profissional de jornalistas e radialistas. De acordo com o Ministério das Comunicações (2012):

A programação sempre deve respeitar sempre os valores éticos e sociais da pessoa e da família, prestar serviços de utilidade pública e contribuir para o aperfeiçoamento profissional nas áreas de atuação dos jornalistas e radialistas. Além disso, qualquer cidadão da comunidade beneficiada terá o direito de emitir opiniões sobre quaisquer assuntos abordados na programação da emissora, bem como manifestar idéias, propostas, sugestões, reclamações ou reivindicações.

Para melhor entendimentode como se dá essa diferença da programação das rádios comunitárias e as rádios comerciais, Costa (2011, p. 04) apresenta um quadro comparativo:
CONTEÚDO DA PROGRAMAÇÃO
Mídias Tradicionais
Rádios Comunitárias
Conteúdo massificado
Conteúdo direcionado
Predomina jornalismo informativo
Predomina jornalismo interpretativo
Comunicadores com formação acadêmica,
mas que se comunicam de forma préprogramada,formal, mas sem afetação
Comunicadores sem formação acadêmica,
mas se comunicam de forma espontânea,coloquial, mas com afetação
Informação em escala nacional e mundial
Informação em escala local
Predomina a cultura de massa
Predomina a cultura local
Transforma conhecimento em informação
Transforma informação em conhecimento
Notícias da macroeconomia
Notícias da microeconomia
A informação chega “de cima para baixo”e é vertical (das instituições ao povo)
A informação chega “de baixo para cima” eé horizontal (do povo às instituições)
Propaganda e publicidade mercadológicas
Propaganda e publicidade institucionais
Presença de jornalismo opinativo
Ausência de jornalismo opinativo
Notícias negativas dos movimentos sociais (como o MST)
Notícias positivas dos movimentos sociais
Ausência de conteúdo religioso (exceto oshorários pagos)
Presença de conteúdo religioso
Com esse quadro podemos identificar os principais aspectos diferenciadores entre as emissoras comerciais e comunitárias. Também podemos compreender melhor a dinâmica programática de cada emissora, que se adapta ao seu público, com viés diferenciado, ou seja, uma voltada para geração de lucros ea outra voltada para geração de cidadania.
Quanto aos conteúdos veiculados nas rádios comerciais e rádios comunitárias, cada uma apresenta suas particularidades. As rádios comerciais abordam em suas programações assuntos de interesse de todos, com uma abrangência maior, atingindo todos os públicos de maneira indiscriminada. O conteúdo religioso só está presente na emissora comercial, se for um horário pago. Já nas emissoras comunitárias, os assuntos abordados são de interesse local, direcionados a um determinado público, como por exemplo, sindicatos, igrejas, grupos étnicos, etc.
Enquanto as emissoras comerciais possuem em seus quadros comunicadores com formação acadêmica, como jornalistas, publicitários e radialistas, nas rádios comunitárias não há essa exigência. Ali, o quadro de comunicadores é composto por pessoas da comunidade, que utilizam o conhecimento popular e uma linguagem simples, de fácil compreensão, para repassar informações que sejam transformadas em conhecimentos, que promovam transformações na comunidade.
As rádios comerciais se mantêm com a venda deespaços publicitários. Nas emissoras comunitárias são entidades sem fins lucrativos. Na programação de uma rádio comunitária é proibido à veiculação de propagandas ou horários pagos. Essas rádios dependem de apoios culturais da comunidade em que está inserida. Os recursos arrecadados nesses apoios são usados para o pagamento de contas como luz, água, telefone e para manutenção dos equipamentos, quando necessário. Segundo a portaria 462/2011, do Ministério das Comunicações, apoio cultural é:

A forma de patrocínio limitada à divulgação de mensagens institucionais para pagamento dos custos relativos à transmissão da programação ou de um programa específico, em que não podem ser propagados bens, produtos, preços, condições de pagamento, ofertas, vantagens e serviços que, por si só, promovam a pessoa jurídica patrocinadora, sendo permitida a veiculação do nome, endereços físico e eletrônico e telefone do patrocinador situado na área de execução do serviço.


As emissoras comerciais dificilmente tratam dos movimentos sociais como algo positivo. Por exemplo, as notícias veiculadas sobre MST- Movimento dos Sem Terra, sempre são repassadas à sociedade com uma imagem negativa, dando a entender que esse grupo é formado por pessoas criminosas. Por outro lado, as emissoras comunitárias desfazem essa imagem negativa dos movimentos sociais, valorizando as ações e conquistas desses grupos.
Pelo que vimos, há grande diferença entre o conteúdo veiculado pelas rádios comerciais e pelas emissoras comunitárias. A partir do momento que cada uma tem um objetivo específico, suas programações terão também características diferenciadas. Mesmo que as duas tenham funções sociais, as rádios comunitárias têm sua programação voltada para promoção da cidadania.

2.7 Rádio comunitária e cidadania


A razão de ser de uma rádio comunitária é dar voz às pessoas, garantindo sua participação e levando informação que se traduza em conhecimento para todos da comunidade. Cidadania é a palavra de ordem de uma emissora comunitária.
Cidadania antigamente estava ligada a ideia de que apenas as pessoas que tinham dinheiro ou poder, eram consideradas cidadãos. A partir do sec. XVIII com as revoluções americana e francesa, o conceito de cidadania adquiriu caráter libertário, no qual todos são detentores de direitos. Soares relata que:

A noção de cidadania contemporânea implica que os cidadãos têm certos direitos, começando pelos políticos, como o de votar e de ser votado, que são negados ou apenas parcialmente estendidos a estrangeiros e outros não-cidadãos residentes em um país. Trata-se de uma construção histórica, em expansão, ligada hoje a muitos aspectos da vida, significando o acesso dos cidadãos à saúde, à educação, à previdência, à cultura, à comunicação, etc. (2008. p.2).

Marshall (1967), citado por Peruzzo (2002), argumenta que a cidadania engloba três tipos de direitos, os civis, os políticos e os sociais:

O elemento civil é composto dos direitos necessários à liberdade individual: liberdade de ir e vir, liberdade de  expressão, pensamento e fé, o direito à propriedade e o direito à justiça. Tais direitos estão sob a alçada do poder judiciário. Por elemento político da cidadania se deve entender o direito dos indivíduos de participar do exercício do poder, como membros de um organismo investido de autoridade política ou como eleitores de tais membros. As instituições correspondentes são o parlamento e os conselhos do governo local. O elemento social da cidadania se refere a tudo o que vai do direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As instituições mais ligadas com ele são os sistemas educacionais e de serviços sociais.

Peruzzo (2002) acrescenta a esses tipos de direitos, uma nova categoria, chamada de direitos de terceira geração, que diferente dos outros, não se relaciona às pessoas individualmente, mas sim à coletividade.

Entre esses direitos da terceira geração estariam também os dos “novos movimentos sociais” como direitos relativos a interesses difusos, direito do consumidor, direito à ecologia, direito à qualidade de vida, direito da terceira idade, direito das crianças, dos jovens etc. (PERUZZO, 2002)

Como foi visto a cidadania garante ao povo de uma nação, o direito social, político e civil, no entanto vale salientar que todo cidadão tem também suas obrigações perante a pátria. O povo tem o direito de escolher seus representantes, porém tem o dever de votar e escolher esses governantes com responsabilidade, pensando na coletividade.
Temos o direito de usufruir daquilo que a constituição nos garante como, saúde, educação, moradia, segurança etc., todavia é dever de todos zelar pelos bens públicos, preservar o meio ambiente e pagar os impostos.
É direito de todos, ter acesso à comunicação, ir e vir, seguir uma religião, porém são deveres dos cidadãos, respeitar a opinião dos seus semelhantes, respeitar a legislação do seu país, respeitar as diferenças religiosas, culturais, sexuais. Cidadania é ter os direitos garantidos, mas também cumprir seus deveres como cidadãos.
Mesmo sendo o direito à cidadania, garantido na constituição federal de 1988, Peruzzo (2009, p.35) relata que “no Brasil, a cidadania existe, mas não para todos”, isso fica claro quando ainda é necessário que pessoas ou grupos oprimidos se mobilizem para garantir seus direitos. A maior prova desta afirmação são os componentes do MST- Movimento dos Sem Terra, que há décadas lutam para conseguir o direito à terra.
Um dos pilares da cidadania na sociedade moderna é a presença dos movimentos sociais. Não é de hoje que pessoas se organizam em grupos para lutar pelos seus direitos. Com a expansão do capitalismo e do desenvolvimento industrial, surgiu, nas grandes cidades, grupos que sentiram a necessidade de lutar por melhores condições de vida, principalmente aqueles que eram explorados em seus trabalhos. Essas pessoas começaram reivindicar melhorias salariais, carga horária de trabalho mais justa, equipamentos etc.. Segundo Costa (1988), foi na década de 1970, que o termo “movimentos sociais” surgiu no Brasil.
Para Peruzzo movimentos populares são:

[...] Manifestações e organizações constituídas com objetivos explícitos de promover a conscientização, a organização e a ação de segmentos das classes subalternas, visão satisfazer seus interesses e necessidades, como o de melhorar o nível de vida, através do acesso as condições de produção e de consumo de bens de uso coletivo e individual; promover o desenvolvimento educativo-cultural das pessoas; contribuir para preservação e recuperação do meio ambiente; assegurar a garantia de poder o direito a  participação política na sociedade e assim por diante. Em última instância, pretendem ampliar a conquista de direitos de cidadania, não somente para pessoas individualmente, mas para o conjunto de segmentos excluídos da sociedade. (PERUZZO 2007, p.1)

            Costa (1988) salienta que, ao tomarem conhecimento dos seus direitos sociais e políticos, as pessoas marginalizadas, buscam os movimentos sociais, para conseguir o espaço que elas têm direito na sociedade, criando caminho para conquista e preservação da cidadania.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, expressa que todos os cidadãos têm direito à comunicação. Esse direito não se reduz apenas a liberdade de expressão, mas a todas as formas de participação do sujeito nos meios de comunicação. Peruzzo (2007) afirma que os meios comunitários são os que permitem a participação dos cidadãos, pois estão mais ao alcance das pessoas do que a grande mídia. Segundo a autora esses meios:

[...] se situam no ambiente em que as pessoas vivem, conhecem a localização e podem se aproximar mais facilmente. Processo que é facilitado quando a comunicação se realiza a partir de organizações das quais o cidadão participa diretamente ou é atingido por suas ações. Segundo, porque se trata de uma comunicação de proximidade. Ela tem como fonte a realidade e os acontecimentos da própria localidade, além de dirigir-se às pessoas da “comunidade”, o que permite construir identificações culturais. (PERUZZO, 2007,p.20)

Perruzzo (2007) mostra como são os níveis de participação das pessoas nos meios de comunicação: como simples receptores de informação, participação na forma de entrevistas, pedidos de música etc., participação na produção e difusão de mensagens, participação no planejamento de políticas do meio comunicativo e participação na gestão, ou seja, no controle de um meio de comunicação comunitário. Para a autora, “a participação das pessoas pode tanto se concretizar apenas em seu papel como ouvintes, leitores ou espectadores, quanto significar o tomar parte dos processos de produção, planejamento e gestão da comunicação.” (2007, p.21).
A comunicação comunitária tem um papel fundamental na promoção da cidadania, pois ela ajuda a comunidade a refletir sobre seus problemas, contribui na reivindicação de direitos negados pelos governantes, abre espaço para denúncias e contribui para educação das pessoas da comunidade. (PERUZZO, 2007, p 22).
Dentre os vários veículos que se intitulam meios de comunicação comunitários estão às rádios comunitárias. Essas emissoras devem estar compromissadas com a melhoria de vida das pessoas da comunidade, através do desenvolvimento local, além de fazer elas se conscientizarem de seus direitos e deveres, gerando a cidadania. Peruzzo (2006, p.06), cita que, “a razão de ser do meio comunitário de comunicação está baseada no compromisso com a melhoria das condições de existência e de conhecimento dos membros de uma “comunidade”, ou seja, na ampliação do exercício dos direitos e deveres de cidadania”.
O conceito de desenvolvimento está ligado à criação de condições favoráveis para uma determinada comunidade, que melhore suas condições sociais. Para Peruzzo esse termo não deve estar relacionado apenas a aspectos econômicos e geração de renda:

[...] desenvolvimento quer dizer avanço na qualidade de vida, quer dizer ampliação dos direitos de cidadania e pressupõe: a) a igualdade de acesso aos bens econômicos e culturais; b) possibilidades de participação política – desde participação nas pequenas associações até nos órgãos dos poderes públicos; c) usufruto das benesses geradas a partir da riqueza produzida socialmente e redistribuída por meio de salários e dos serviços de educação, saúde, transporte, segurança, tecnologias de comunicação etc. (PERUZZO, 2006, p.6).

A autora citada apresenta as funções que as rádios comunitárias possuem:

É justamente no processo de mobilização para a ampliação da cidadania que as rádios comunitárias têm relevante papel a desempenhar. Elas podem contribuir efetivamente para o avanço do desenvolvimento social e local a partir de várias maneiras, desde os conteúdos que divulgam até a participação no próprio processo de fazer rádio. (PEREZZO, 2006, p.7)

Peruzzo (2006, p 8-10), ainda relata que essa contribuição das emissoras comunitárias, na geração de cidadania, acontece de várias maneiras:
a) Por meio do exercício da liberdade de expressão do cidadão e das organizações coletivas.
b) Permitindo que as pessoas da comunidade participem da gestão da rádio, de forma que a emissora não corra o risco de ficar nas mãos de uma só pessoa.
c) Na abertura de espaços para participação dos cidadãos, na programação da rádio, na diretoria, no conselho, nas assembleias etc.
d) Na criação de rede de repórteres populares.
e) Na veiculação de conteúdos de interesse público.
f) No fornecimento de entretenimento respeitando as diferenças das pessoas (idade, cor, gênero, nacionalidade, crenças, escolaridade, condição financeira etc.).
g) Na formação profissional, oferecendo treinamento por meio de cursos de curta duração a membros da comunidade, tornando-os mais capacitados para atuarem na emissora.
h)Abrindo espaço para que as pessoas da comunidade possam avaliar a programaçãoda emissora.
i) Levar ao conhecimento das pessoas, outros fatos que não forem gerados, na comunidade, com intuito de contribuir para aumentar o nível de informação e consciência crítica.
Com tudo que foi visto, percebe-se a importância das rádios comunitárias no contexto social, quando essas funcionam dentro dos preceitos regulatórios estabelecidos pela legislação da radiodifusão comunitária. Porém, nem tudo são flores, existem muitos problemas que causam o enfraquecimento das emissoras comunitárias.
 Para Luz (2011, p. 11-12) grande parte das rádios comunitárias não têm programas elaborados com criatividade, o radiojornalismo é iniciante e os programas musicais são cópias daqueles veiculados nas rádios comerciais. O autor identifica quatro fatores responsáveis por esses problemas:
a)      Culturais. Como as emissoras comerciais surgiram em primeiro lugar, eles serviram de modelo para as rádios comunitárias.
b)     Problemas financeiros. Além da falta de recursos financeiros que faz que com as rádios comunitárias funcionem com equipamentos precários, não há recursos para remunerar os que prestam serviços a essas emissoras.
c)      Falta de capacitação. Os que atuam nas rádios comunitárias, em sua grande maioria, desconhecem o potencial político, social e cultural dessas emissoras. 
d)     Falta de movimento organizado. Segundo Luz (2011, p. 12) “[...] se hoje tem rádio comunitária de todo tipo (comercial, evangélica, católica, sem classificação) é porque falta uma mobilização no setor. São poucas as entidades confiáveis.”.
Dentro ainda deste contexto, Peruzzo (2007) ressalta que existem rádios intituladas de comunitária, mas que exercem funções de rádios comerciais e religiosas. Outras estão a serviço de políticos ou de dirigentes que usam a emissora em proveito próprio.

No caso do rádio, por exemplo, há emissoras de matizes diferentes sob o rótulo de comunitária: Algumas são operadas como negócio comercial; outras são religiosas; outras estão a serviço de políticos profissionais; há também aquelas operadas por entusiastas do rádio e do trabalho comunitário, mas que acabam por desenvolver o personalismo de suas lideranças, dificultando o envolvimento da população; mas existem também aquelas de caráter público vinculadas a organizações comunitárias e a movimentos sociais. (PERUZZO, 2007, p.3)

Nem sempre essas rádios têm suas funções exercidas de forma correta. Porém, mesmo com essas questões, não se pode negar que esse veículo de comunicação, quando funcionando dentro dos parâmetros da lei, traz muitos benefícios à comunidade, já que é um canal que está diretamente ligado aos cidadãos.

2.8  Educomunicação e rádio comunitária


A educomunicação é uma área que envolve a educação e a comunicação, dentre os seus objetivos está à formação de sujeitos críticos em relação às mídias. O uso da comunicação na educação não é algo recente, esse assunto vem sendo discutido há décadas. De acordo com Freitas (2015), a utilização da comunicação no processo de aprendizado vem dos anos de 1960, com Paulo Freire, que já reconhecia a importância dessa ligação.
Na América Latina, os métodos desenvolvidos pelo jornalista argentino Mário Kaplún foram importantes para o avanço da educomunicação. Freitas afirma que:

Dentre os vários trabalhos desenvolvidos por Mário Kaplún, também podemos destacar outros, que foram igualmente de grande importância e contribuição para a Comunicação e para Educação: o método de leitura crítica e o método do Cassette-Foro. O método Cassette-Foro desenvolvido por Mário Kaplún, tinha como objetivo o uso da comunicação, bem como dos meios, para a organização popular, ou seja, grupos organizados, comunidade de bairro, associações, sindicatos, e outros ligados à classe trabalhadora. O objetivo do projeto principal não era apenas produzir programas para serem veiculados na programação da rádio comercial, mas sim contribuir para que o povo da América Latina tivesse voz e vez. (FREITAS, 2015, p.153)

Várias experiências de Kaplún foram disseminadas na América Latina, principalmente as oficinas para formação de comunicadores populares.
Além da contribuição de Kaplún para o surgimento da educomunicação, outros fatores foram primordiais, como o surgimento das tecnologias midiáticas, que levou a necessidade de se trabalhar alternativas para preservação dos valores envolvendo educadores e familiares, na busca de orientá-los sobre a influência da mídia na vida da criança e do jovem. De acordo com Almeida (2016, p.2):

[...] Surgiram publicações impressas periódicas, como rádio, a TV e as digitais. Em suportes diversos como computadores e plataformas móveis. Conforme surgiram foram se infiltrando no cotidiano social. O problema é que elas não só questionavam a ordem e os valores morais existentes, mas também os conceitos vigentes de cultura e arte eruditas, provocando abalo nas crenças familiares e sociais, motivando discussões sobre a qualidade de sua contribuição para sociedade.

Na América Latina, a educomunicação surgiu alertando as pessoas, no período da ditadura, para a invasão de produtos culturais estrangeiros que colocava em risco a cultura nacional, assim como o uso descriminado das mídias em favor do governo. (Almeida, 2016). A autora ainda salienta que educadores, comunicadores sociais e pessoas da sociedade civil se uniram para conscientizar as comunidades do seu potencial, na luta pela liberdade junto a seus opressores, dando-lhes voz através da comunicação.
Na década de 1980, a UNESCO empregou o novo termo educomunication, como significado Media Education, para indicar as ações da educação em relação ao impacto dos meios de comunicação na formação de crianças e jovens. (SOARES, 2011)
Ainda de acordo com o Soares (2011), entre os anos de 1997 e 1999, especialistas de 12 países da América Latina, participaram de uma pesquisa realizada pelo NCE/USP (Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo). Esta pesquisa foi responsável para identificar práticas que uniam comunicação e educação, mas que se diferenciavam por objetivar a transformação da sociedade civil, gerando cidadania.
Foi através dessa pesquisa que o termo “educomunicação” começou a ser usado oficialmente. A educomunicação está voltada para melhorar os ecossistemas comunicativos, ou seja, seu objetivo básico é gerar um contexto em que as pessoas interajam e se relacionem de forma democrática e participativa. Soares define educomunicação como:

Para tanto, defino, inicialmente, a educomunicação como sendo o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos, melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, desenvolver o espírito crítico dos usuários dos meios massivas, usar adequadamente os recursos da informação nas práticas educativas, e ampliar a capacidade de expressão das pessoas (SOARES, s/d, p.1).

A pesquisa do NCE/USP identificou algumas categorias de atividades, no campo da comunicação e educação, que foram chamadas de áreas de intervenção. Soares (2011, p. 47) define áreas de intervenção como “[...] ações mediante as quais, ou a partir das quais, os sujeitos sociais passam a refletir sobre suas relações no âmbito da educação.” O autor ainda indica quais as áreas de intervenção da educomunicação:

A primeira destas “áreas” – mais antiga e fundante – é a própria (1) educação para a comunicação. Seguem outras, como (2) a expressão comunicativa através das artes; (3) a mediação tecnológica nos espaços educativos;(4) a pedagogia da comunicação;(5) a gestão da comunicação nos espaços educativos e,  como mão poderia faltar;(6) a reflexão epistemológica sobre a própria pratica em gestão. (SOARES, 2011, p. 47)

Em artigo para a revista Comunicação e Educação, Soares (2014) acrescenta mais uma área de intervenção: produção midiática.
A área de educação para comunicação refere-se às atividades que buscam formar receptores críticos frente às mensagens dos meios de comunicação. A área de expressão comunicativa através das artes abrange segundo Soares (2014) “[...] práticas que valorizam a autonomia comunicativa das crianças e jovens mediante a expressão artística – arte-educação.” A área de mediação tecnológica trata do uso das tecnologias da informação na educação. A área de pedagogia da comunicação, segundo Almeida (2016, p.12) refere-se ao uso “da comunicação para facilitar a construção de conhecimento.” A área de gestão da comunicação está voltada para o planejamento e a execução dos processos para melhorar os ecossistemas comunicativos. A área de produção midiática, segundo Soares (2014), consiste em “ações, programas e produtos da mídia elaborados a partir do parâmetro educomunicativo”. A área de reflexão epistemológica abrange os estudos e reflexões sobre a área da educomunicação.
A educomunicação se caracteriza por promover o protagonismo das pessoas, fazendo com que elas se tornem atores de sua própria história. Busca também o diálogo e o empoderamento das classes sociais oprimidas. Segundo Freitas:
[...] as práticas educomunicativas constituem-se como espaço para o debate de direitos sociais e das minorias, fomentando a constituição de políticas públicas e ações a elas correlatas como estratégias de intercâmbio e diálogo entre comunidades e o fortalecimento da organização interna de segmentos sociais. (2015, p. 158)

Volpi e Palazzo (2010, p.7) ressaltam que “educomunicação é uma forma de conhecer e compartilhar o conhecimento usando estratégias e produtos de comunicação pressupondo o compartilhamento livre das informações, dentro da ideia de que o conhecimento é para todos”.
Na dinâmica da educomunicação podemos dizer que as rádios comunitárias são veículos de comunicação disseminadores da prática educomunicativa, pois estão voltadas às classes desfavorecidas abrem espaço para as pessoas participarem da gestão, do planejamento e avaliação de sua programação e são canais geradores da educação informal. Peruzzo relata que:

[...] a rádio comunitária contribui para o desenvolvimento, tanto pelas operações econômicas que desencadeia, como pelos conteúdos que transmite e pelo aprendizado que proporciona àqueles que participam do processo de planejamento, criação, transmissão de mensagens e de gestão da mídia popular e alternativa. Portando, gera a educomunicação comunitária, processo que se refere às inter-relações entre Comunicação e Educação informal (adquirida no dia-a-dia em processo não organizado) e não-formal1 (formação estruturada e pode levar a uma certificação, mas difere da educação formal ou escolar). (2007, p.11)

Nas rádios comunitárias os participantes são pessoas da comunidade que se envolvem no processo midiático, aprendendo um com o outro, buscando o aperfeiçoamento dos seus conhecimentos através de práticas socioculturais. De acordo Peruzzo:

[...] na comunicação comunitária ocorre um significativo processo de educomunicação na perspectiva do desenvolvimento integral da pessoa. Estas observações sobre a importância da comunicação comunitária como fator educativo não são meras suposições. Já foram evidenciadas em muitas experiências concretas, das quais são mostrados fragmentos a seguir, segundo as falas de seus protagonistas. (2007, p.12)

Estão comprovados que as emissoras comunitárias têm vários propósitos que coincidem com os da educomunicação. Ambas atuam no contexto social, em prol de grupos menos favorecidos, fazendo com que as pessoas adquiriram papel de protagonistas na condução de suas comunidades, levando conhecimento que represente transformação social.



3 METODOLOGIA

3.1 Projetos de intervenção


Este projeto de intervenção foi desenvolvido na rádio comunitária de Areial, (87.9 FM), localizada na rua Antonio Felix da Costa, nº 09, centro do Município de Areial, na Paraíba.
Essa emissora comunitária está ligada à Associação Comunitária dos Moradores de bairro do Município de Areial. Foi fundada em 28 de março de 1998, porém só entrou no ar em agosto do mesmo ano, em fase experimental. (RÁDIO COMUNITÁRIA FM, 1998, s/p).
A emissora é uma empresa sem fins lucrativos, políticos ou religiosos, que tem por objetivo, ter um relacionamento especial com a comunidade e isto deve estar refletido na sua programação, “priorizando a informação, a formação, o entretenimento, a valorização cultural e históricadas pessoas e do cotidiano da comunidade Arealense.” (RÁDIO COMUNITÁRIA FM, 1999, p.1).
A rádio opera na frequência 87.9 FM, seguindo as normas estabelecidas pela lei 9.612/98 da radiodifusão comunitária. Sua diretoria atual está representada por Alexandro Soares da Costa, que foi sócio fundador, assim como um dos responsáveis pela abertura da rádio em Areial. A emissora funciona de 06h00min da manhã às 22h00min diariamente. Sua grade é composta por programas de cunhos informativo, educativo, sindical, religioso, esportivo, institucional (poder executivo e legislativo) rural e musical.
A emissora possui uma sede própria, com dois estúdios, equipados com mesa de controle de áudio, computadores, telefones e outros equipamentos necessários para seu funcionamento. O alcance de sua transmissão atinge todo o munícipio de Areial – PB, tanto na zona urbana, quanto rural. A equipe de comunicadores é composta por pessoas da comunidade arealense, com níveis de escolaridade variando entre o fundamental, médio e superior, que fazem parte dos diversos segmentos da sociedade, como professores, pastores, sindicalistas, agricultores, jornalistas, radialistas e estudantes.
A cidade de Areial está localizada no Agreste da Paraíba, a 180 km da capital. Possui 6.470 habitantes (segundo de 2010) e ocupa uma área territorial de 35 Km² (IBGE, 2016). A maioria dos habitantes é constituída de famílias de agricultores. O município de Areial já foi conhecido como “terra da batatinha”, pois este era o produto mais cultivado na região. Hoje boa parte da população pratica a agricultura familiar, tirando seu sustento da terra. Foi pensando em contribuir com esse público, ou seja, os agricultores, que planejei um projeto de intervenção voltado para área rural.
O objetivo deste projeto é desenvolver um programa radiofônico, fundamentado nos conceitos da educomunicação, de forma que este seja um canal aberto para a participação do público ouvinte (agricultores, líderes comunitários e outros), oferecendo quadros que incentivem a interação entre os receptores, promovendo a cidadania e a cultura local.
O presente projeto se insere na área de intervenção da educomunicação de produção midiática. De acordo com Soares (2014, p. 138), esta área refere-se a “produtos, ações, programas e produtos da mídia elaborados a partir dos parâmetros educomunicativos. ” Para Almeida (2016, p.15) esta área "enquadra-se no ambiente da comunicação mediada em que emissor e receptor não estão fisicamente presentes no mesmo local, a mensagem flui por meio de um suporte tecnológico como: telefone, computador, televisão, rádio, papel, entre outros.” A autora acrescenta que um projeto nesta área precisa se pautar pelos critérios educomunicativos, para que ao "promover o conhecimento crítico se nutra de: princípios democráticos e valores como a cidadania, a solidariedade, a criatividade, o diálogo horizontalizado." (ALMEIDA, 2016, p.15)
Além da produção é preciso ter o entendimento de como aquele canal poderá ajudar no desenvolvimento da comunidade, estudar as melhores práticas a serem adotadas que facilite o entendimento do público algo e que esses consigam captar informações e as transforme conhecimento.

3.2 Procedimentos metodológicos


Quanto a sua natureza a pesquisa referente a este projeto se classifica como aplicada, pois através do assunto em discussão buscamos obter mais conhecimento sobre o tema “rádio comunitária” para aplicação no projeto de intervenção. Para Prodanov e Freitas (2013) a pesquisa aplicada tem por objetivo gerar conhecimentos para solucionar problemas específicos, envolvendo interesses locais.
Do ponto de vista dos objetivos, essa pesquisa se classifica como exploratória, pois buscou levantar dados iniciais para o aprofundamento sobre o tema abordado. De acordo com Prodanov e Freitas uma pesquisa exploratória ocorre:

Quando a pesquisa se encontra na fase preliminar, tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar, possibilitando sua definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses ou descobrir um novo tipo de enfoque para o assunto. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso. (2013, p.51-52)

Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a pesquisa se classifica como bibliográfica e documental, pois adota características dessas duas modalidades.  Dentro do conceito da pesquisa bibliográfica, foram consultados materiais publicados em livros, revistas, na internet e outros, com a finalidade de nos enterreirarmos sobre o tema da pesquisa. (PRODANOV e FREITAS, 2013, p.54).
Além da pesquisa bibliográfica, outras fontes foram utilizadas para maior embasamento do tema, como consulta às leis e decretos sobre radiodifusão comunitária, o estatuto e regimento da rádio comunitária de Areial-PB. Este procedimento caracteriza também a pesquisa como documental de fonte de primeira mão, definido por Gil (2008),citado por Prodanov e Freitas (2013, p.56), “como os que não receberam qualquer tratamento analítico, como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc.”.
A técnica utilizada na obtenção de dados para a avaliação do projeto de intervenção foi um questionário com perguntas abertas, que segundo Prodanov e Freitas (2013, p.109) são perguntas que o informante responde livremente, sem um direcionamento do entrevistador.

3.3 Planejamento e ações


O produto midiático deste projeto de intervenção educomunicativa consistiu de um programa radiofônico, transmitido pela rádio comunitária de Areial - PB, no horário das 17 às 18 horas, às quintas-feiras, que recebeu o nome de “Sintonia Rural”[2] . Este programa foi ar pela primeira vez no dia 28 de janeiro de 2016 e, até hoje (maio de 2016), continua sendo veiculado.
As rádios comunitárias são canais que abrem espaço para grupos sociais. Nesta perspectiva, o presidente da RCA FM – Areial -PB, em conversa com os conselheiros do CMDRS (Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável) - Areial disponibilizou um espaço, na emissora, para que os integrantes do conselho e principalmente os agricultores do município, tivessem um programa direcionado a eles.
              Apesar de, na emissora, já existirem programas de responsabilidade de entidades como o sindicato rural e EMATER, que tratam de assuntos relacionados com o contexto rural, sentia-se a necessidade de um programa que falasse a linguagem do agricultor de maneira mais simples e que tratasse não só de assuntos técnicos.
Como presidente de uma associação rural, em Areial - PB, eu participei de uma reunião, em novembro de 2015, em que foi discutida a proposta de criação de um espaço para o CMDRS, na grade de programação da emissora.  Nesta época, eu estava em busca de um tema para meu Trabalho de Conclusão de Curso. Foi então que surgiu a ideia de criar um programa para o Conselho, usando como base os conceitos da educomunicação, campo de estudo do curso de Comunicação Social da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande). Em conversa com o diretor da emissora, expressei minha intenção de utilizar o programa no meu projeto de conclusão do curso. A proposta foi colocada para apreciação dos outros membros do Conselho, em 28 de dezembro de 2015, e, por unanimidade, foi aprovada.
Em janeiro de 2016, em reunião do Conselho, foi discutido com os conselheiros que tipo de informação eles achavam importante ser divulgado no programa. Na sua totalidade foram sugeridos temas sobre as políticas públicas destinadas ao homem do campo, temas ligados a problemas sociais, como falta de água eos cuidados no uso de agrotóxicos, além de dicas para prevenções a doenças. Também foi sugerido que as comunidades tivessem o espaço para divulgar seus trabalhos e avisos. Ficou estabelecido que o programa não deveria se tornar palco de politicagem, ou seja, que todos fossem vistos como iguais, independente de partido político, religião ou classe social.
Depois de conversas com o diretor da emissora e com orientadora deste Projeto de Intervenção, foi definido que, em termos de conteúdo, o programa Sintonia Rural consistiria dos seguintes quadros, não perdendo de vista o compromisso com a participação direta do ouvinte:
1)      O quadro Fala agricultor: espaço em que as pessoas participam enviando mensagens de voz ou texto, através do SMS[3], WhatsApp[4], facebook[5]ou ligando para o telefone fixo da rádio. Elas são atendidas ao vivo e podem apresentar as demandas de suas comunidades, críticas, reivindicações, soluções etc.
2)      Quadro Momento cultural: neste espaço o agricultor participa enviando sugestões de música e/ou poesia, curiosidades em geral, tradições regionais e fatos que relembrem algum momento de suas vidas. Neste quadro há também participação ao vivo.
3)      Quadro Entrevista do Dia: neste quadro participam pessoas representantes de ONGs ou do poder público e outros especialistas, que falam sobre temas de interesse do setor agrícola, sobre projetos e problemas sociais como falta d’ água, produtos transgênicos, agrotóxicos etc.
4)      Quadro Notícia e você: aqui são divulgados notícias do contexto local, estadual e nacional, quando há relevância para o agricultor. Também são dados avisos dos representantes das entidades que compõe o CMDRS. Este é um espaço para serviços de utilidade pública.
5)      Quadro Em dia com a saúde: neste quadro são abordados temas sobre hábitos saudáveis, uso de plantas medicinais e problemas que afetam a saúde do homem do campo. O ouvinte participa enviando sugestões e perguntas pelo WhatsApp.
6)      Direito garantido: Neste quadro são abordados temas sobre os direitos dos trabalhadores rurais, documentações pessoais, documentação de legalização da terra, de financiamentos, aposentadorias rurais e outros benefícios.
              O programa “Sintonia Rural” é veiculado na rádio comunitária de Areial 87.9 FM, todas as quintas-feiras, tem a produção, apresentação e sonoplastia estão sob minha responsabilidade. A direção é de Alexandro Soares (diretor da emissora), com participação do presidente do Conselho, Edinaldo Cabral e do coordenador local da EMATER-PB, José Paulino da Silva. O programa segue um roteiro aberto, incluindo os quadros descritos anteriormente. Contudo, dependendo da semana, nem todos os quadros são veiculados, principalmente quando há a presença de entrevistados, o que ocupa boa parte do tempo do programa.
Na primeira audição foi explicado para os ouvintes como seria a dinâmica do programa Sintonia Rural. Além disso, foram abordados temas como o Garantia-Safra (ação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf), abastecimento de água, distribuição de sementes, aragem de terra e o Programa Viva Água, do governo do Estado da Paraíba. Esses assuntos foram complementados com a entrevista com o prefeito do município de Areial - PB, Cícero Pedro Meda de Almeida e o do diretor de Agricultura, Omar Jales. Também participaram desse primeiro programa, o presidente do Conselho e o Coordenador da EMATER local.
Os ouvintes participaram ativamente dessa primeira audição, através do telefone e mensagens no WhatsApp e SMS. Alguns ouvintes questionaram sobre como estava acontecendo o abastecimento de água nas comunidades rurais, sobre o prazo para quitação do boleto do Garantia-Safra assim como quais as políticas públicas que o gestor do município estava realizando em favorda agricultura, no município de Areial-PB.
A participação dos ouvintes é um dos pontos fundamentais que direcionam as ações do Programa Sintonia Rural e é o que indica que ele está sendo educomunicativo. Essa participação acontece através do telefone fixo da emissora, do WhatsApp, seja como mensagem de áudio ou de texto, do SMS, do Facebook ou pessoalmente no estúdio. Semanalmente recebemos várias mensagens que incentivam a continuação do programa e que relatam a importância desse canal para a comunidade. Muitos ouvintes comentam que o programa cumpre um papel social importante eque abre espaço para a comunidade participar sem restrições.
Quando há entrevistados, os ouvintes participam deixando perguntas ou comentários. Vários temas abordados no programa tiveram grande repercussão, como o do Garantia-Safra, em que os agricultores interagiram tirando suas dúvidas sobre o processo, desde a inscrição até o recebimento do benefício.
Outro assunto que também teve grande repercussão foi sobre o CAR- Cadastramento Ambiental Rural, que está acontecendo em todo Brasil, mas que muitos agricultores ainda não tiveram como realizá-lo. As principais dúvidas dos ouvintes eram sobre quem deveria fazer ecomo fazer esse cadastro. Os agricultores que já haviam feito o cadastro também participaram do programa, explicando os procedimentos. Assim o programa serviu como intermediário entre as duas partes (aqueles que não sabiam e aqueles que tinham o conhecimento), cumprindo seu objetivo de levar informação relevante para a comunidade.

3.4 Avaliação


Embora a participação dos ouvintes estivesse acontecendo em todos os programas com várias manifestações positivas, decidimos fazer uma avaliação mais estruturada para conhecer os resultados que o programa estava alcançando. Para tanto elaboramos um questionário (Apêndice A), com quatro perguntas abertas. O questionário foi respondido por doze, dos vinte e dois membros do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) de Areial-PB, que reúne os representantes dos agricultores da região.
A partir de uma abordagem qualitativa pudemos perceber que:
(1)   A maioria ouve o programa todas as semanas. Duas pessoas responderam que ouvem, mas não toda semana, sendo que uma delas declarou que, por conta do trabalho, não consegue sintonizar o programa semanalmente.
(2)   Ao serem interrogados sobre se ouviram, em suas comunidades, comentários sobre o programa e se esses comentários eram positivos ou negativos, a maioria foi unânime em dizer que as pessoas falaram positivamente sobre o programa.
(3)   Quando questionados sobre se o programa estava atendendo às expectativas, todos foram categóricos em dizer que sim.
(4)   No que se refere às sugestões para melhorar o programa, um pouco menos que a metade dos conselheiros afirmou que nada precisava mudar, o restante fez as seguintes sugestões: incluir no quadro Momento da Cultura a participação de repentistas e violeiros; incentivar maior participação dos presidentes das associações rurais e dos agricultores, através de entrevistas; aumentar o tempo do programa para 1h30 min de duração. Um conselheiro pediu para alterar o horário, pois às 17h00min ele está trabalhando e não tem como escutar o programa.
A pesquisa através do questionário foi de grande importância para mostrar que o programa está tendo boa receptividade entre os agricultores e seus representantes. Mostrou também que este é um procedimento que devemos adotar com frequência, pois assim poderemos monitorar os resultados do nosso trabalho e identificar o que deve ser melhorado ou modificado. As sugestões em relação ao conteúdo serão trabalhadas para se incorporarem ao programa, deixando-o cada vez mais interativo e dinâmico, sempre tendo em vista o compromisso em incentivar a participação e as decisões democráticas.



4 CONCLUSÃO

As rádios comunitárias são canais que abrem espaço para os grupos desfavorecidos da sociedade, sem fazer distinção de classe social, partido político, credo religioso, orientação sexual e etnia. Essas emissoras são porta-vozes da cidadania, pois estão mais perto das comunidades em que estão inseridas. Em sua programação são veiculados assuntos que dizem respeito à realidade local, fazendo com que as pessoas se tornem protagonistas das melhorias alcançadas nas suas comunidades. Através do conteúdo levado pelas rádios comunitárias, os membros das comunidades conseguem identificar seus direitos e deveres e podem ser transformar em cidadãos conscientes.
A educomunicação diz respeito às práticas que ampliam o potencial comunicativo das pessoas, através do diálogo, do empoderamento e da participação democrática. Portanto, as rádios comunitárias são campo de atuação privilegiado para o educomunicador.
Este projeto de intervenção teve por objetivo desenvolver um programa, na rádio comunitária de Areial-PB, voltado para a classe rural, utilizando como base os conceitos da educomunicação. 
A rádio comunitária de Areial – PB tem tido papel importante como meio de comunicação para comunidade local. Desde sua fundação, vem promovendo a integração da população local, através de programas de cunho educativo, abrindo espaços para o povo participar e manifestar suas opiniões e necessidades, resgatando a cultura local e regional.
Pelo que se observou, através das mensagens dos ouvintes e da pesquisa com os conselheiros, o programa Sintonia Rural, fruto deste projeto de intervenção, conseguiu atingir seus objetivos. O conteúdo veiculado está dentro da perspectiva dos ouvintes e o espaço é totalmente aberto para a participação da comunidade. Embora o projeto se encerre com a apresentação para a banca do trabalho de conclusão do curso, o programa terá continuidade, graças à boa repercussão que teve na comunidade. Ele comprovou que os fundamentos da educomunicação são viáveis e podem ser aplicados para a promoção da cidadania, com o uso de uma rádio comunitária.
Este projeto de intervenção me deu a oportunidade de colocar em prática conceitos teóricos vistos durante o curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Campina Grande. Em 2007, quando comecei a atuar na emissora, minha visão da comunicação popular e do potencial de uma rádio comunitária era bastante restrita.
O projeto de intervenção me possibilitou ampliar os conhecimentos sobre o papel social de uma emissora comunitária. Compreendi também que a educomunicação pode fazer a diferença em comunidades como a de Areial, que, por ser do interior, precisa de veículos de comunicação que levem o conhecimento de forma simples, sem usar de mecanismos para alienar as pessoas e que as mobilize na busca de seus direitos, para que assim possam realmente exercer sua cidadania.
Há relação forte entre a educomunicação e os sentidos de uma emissora comunitária. As duas buscam inserir as pessoas no contexto social por meio da comunicação participativa, que abre espaço para aqueles que vivem a margem da sociedade se manifestarem nas suas necessidades.
Na continuidade do trabalho sempre buscarei guiar pelos princípios da educomunicação, incentivando a participação dos ouvintes, mostrando que eles são os verdadeiros donos do programa e cobrando das autoridades competentes, medidas para melhorar as condições de vida dessas pessoas. As tomadas de decisões devem ser democráticas, sempre levando em conta o empoderamento dos indivíduos.
É gratificante poder implantar algo que ajudea melhorar a vida das pessoas da minha cidade. Creio que a melhor forma de aprender é colocar em prática o conhecimento adquirido em favor daqueles que mais precisam.



REFERÊNCIAS

 

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APÊNDICES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Apêndice A

Questionário aplicado aos membros do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável de Areial- PB.

1.           Você ouve o programa com frequência?
2.           Na sua comunidade, você ouviu alguém comentando sobre o programa? Os comentários em geral foram positivos ou negativos?
3.           Você acha que o programa está atendendo às expectativas?
4.           Quais sugestões você daria para melhorar o programa?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apêndice B

Roteiro aberto do primeiro Sintonia Rural levado ao ar  em 28 de Janeiro de 2016 na Rádio Comunitária de Areial-PB.

Programa Sintonia Rural
1-Abertura do Programa (Vinheta)
Apresentador; Considerações iniciais.
Participante 1; considerações iniciais
Participante 2; considerações iniciais
2- Fala Agricultor
Ouvinte no ar.
Apresentador- mensagens dos ouvintes enviadas através do Whatsaap, Facebook, SMS
3- Entrevista do dia
Considerações iniciais do Entrevistado
Apresentador; Pergunta aragem de terra
Entrevistado ; resposta
Participante  1; comentário sobre o tema abordado.
Pergunta do ouvinte sobre o Garantia safra
Resposta do entrevistado
Apresentador; Pergunta sobre abastecimento d’água na zona rural
Resposta do entrevistado
Pergunta do Ouvinte instalação das caixas de água  do programa Viva Água
Resposta do entrevistado
Participante 2; Comentário sobre distribuição de sementes
Entrevistado comentário sobre investimentos feitos no município em prol da agricultura.
4-Considerações finais
Apresentador ; agradecimentos aos participantes e ao entrevistado
Considerações finais do Entrevistado
Considerações finais do participante 1 e 2
Apresentador ; considerações finais
Vinheta de encerramento
Trilha sonora do programa.











 

 

 





[1]Podcasting é uma forma de difusão de arquivos via internet, “com ele é possível, para um ouvinte, receber automaticamente as novas edições de um programa de rádio sem que tenha de visitar a todo o momento o site em que ele é produzido. A cada nova edição do programa, ou podcast, neste caso, o ouvinte é notificado e o programa é automaticamente baixado em seu computador.” (FARINACI, 2005).

[2] O programa pode ser sintonizado pelo site da emissora no endereço: http://radiorcafmareialpb.blogspot.com.br
[3] SMS –Serviço disponível em telefones celulares que permite o envio de mensagens curtas. SERVIÇO DE MENSAGENS CURTAS. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Servi%C3%A7o_de_mensagens_curtas&oldid=45052727>. Acesso em: 13 abr. 2016.
[4]WhatsApp - é um aplicativo multiplataforma que permite o enviou de mensagens de texto, vídeos, chamada de voz, imagens para smartphones. WHATSAPP. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=WhatsApp&oldid=45315357>. Acesso em: 13 abr. 2016.
[5]Facebook - é um site e serviço de rede social operado e de propriedade privada da FacebookIncFACEBOOK. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Facebook&oldid=45333088>. Acesso em: 13 abr. 2016.